Velejo com todos os ventos.

Dentro e fora das "aspas".

Das coisas inconfessáveis.

(Crônica de Ana Laura Nahas, publicada em A Gazeta, datada de 10 de maio de 2010)

Primeiro é preciso desprendimento, deixar de lado a vergonha e o peso, esquecer censuras, reprimendas, reprovações e repreensões, acreditar com o corpo inteiro na ideia de que a palavra diversão, como a música e os dias de sol, só pode ter um sentido bom, nunca o contrário. Depois é preciso humor, investir no riso e no esquecimento (a vida tem um pouco de literatura, ou muito), confiar com a cabeça inteira na certeza de que pouca coisa na vida facilita mais o resto todo do que achar graça de si mesmo.

Daí fica fácil. Você sorri, acerta a coluna, respira fundo e conta, de uma maneira mais ou menos bonita, de um jeito mais ou menos complicado, de um modo mais ou menos ligeiro, racional e objetivo. Conta que não vive sem Lulu Santos e Zizi Possi (menos as versões pro Italiano) ou que adora “Jaded” do Aerosmith (inclusive o refrãozinho gago), que ouve, dança e sabe absolutamente todas as letras das Spice Girls ou, sendo sincero como não se pode ser, que não perde um show dos Engenheiros do Hawaii.

Conta que por ele você é que nem aquela canção do tango no teto, menos a parte de tomar banho gelado no inverno. Conta que sente saudades do sotaque dele, dos óculos, da camiseta de algodão e das cuecas à mostra pra jogar charme. Conta dos medos próximos, escorpião, barata, solidão, dívida no cartão de crédito e escuro, e daqueles tão distantes quanto Salinópolis, Ametista do Sul ou Aparecida do Taboado. Conta das madrugadas, das vontades e do amor guardado dentro do pote de guardar amores. Conta quase tudo.

Você sorri, acerta a coluna, respira fundo e conta, de uma maneira mais ou menos bonita, de um jeito mais ou menos complicado, de um modo mais ou menos ligeiro, racional e objetivo, que não sai do carro enquanto o rádio não termina de tocar aquela do Roupa Nova (pra que tanta pressa de chegar?). Conta que foi ver a apresentação da Joana no velho teatro do Centro da cidade quando seu namorado era um sujeito ocupado que não mandava notícias nem dava um sinal e que – ai ai – também adora o Fábio Júnior.

Conta até o que não devia, inclusive algumas tristezas dos anos passados e os próprios defeitos (alguém disse, acho que Clarice Lispector, que cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, porque nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro).

Você sorri, acerta a coluna, respira fundo e conta que já gosta, apesar do pouco tempo, mas que tem vontades excessivas e demandas às vezes exageradas. Conta das alegrias de agora e de algumas dúvidas sobre logo depois. Conta quase tudo, sem peso ou vergonha, sem censura ou reprovação, sem maldade ou mau humor. Você confessa as coisas, e pronto.

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E você, confessa? rs

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