Velejo com todos os ventos.

Dentro e fora das "aspas".

Diário de uma Paixão” ou Um elogio.

(Crônica de Maria Sanz Martins, publicada na Revista AG, de 29 de agosto de 2010)

Não, não sou crítica de cinema, nem nada disso. Essa crônica, na verdade, não passa de um sincero elogio.

Sabe aquele filme que a gente não gosta, nem adora – a gente ama?!

Sabe aquele que vira e mexe a gente assiste de novo e, mesmo sabendo de cor as falas, a gente ainda chora?

Sabe aquele que a gente não sabe bem explicar porque, nem como, mas tem uma secreta certeza de que ele fala da nossa própria história?

Sabe aquele filme que te ensina a não ser igual no dia seguinte?

Pois bem, é desse filme que eu queria lhe falar agora.

Me lembro perfeitamente da primeira vez que o assisti no cinema. Lembro de sentir cada corda da minha alma sendo tocada, dos meus suspiros entrelaçados e sopros emaranhados. Aliás, posso dizer sem medo de estar sendo dramática que este filme está para mim como Killing Me Softly está para a personagem da música de Roberta Flack. De modo que, seja pelo fator psicológico (ou patológico), devo dizer que para mim é óbvio me sentir na pele de Alice, a personagem da história.

Desde a fotografia, passando pelo figurino, até a música, tudo nesse filme é poesia.

Começando pelas primeiras palavras ditas por Noah, quando ele explica:

“Não sou ninguém especial. Sou um homem comum, com pensamentos comuns. Vivi uma vida comum. Não existem monumentos dedicados a mim, e meu nome logo vai ser esquecido. Mas existe uma coisa em que fui glorioso. Eu amei outra pessoa com todo meu coração e minha alma, e para mim, isto sempre foi o bastante.”

Sim, claro que é um filme de amor!! Amor dos bons – e dos raros. Desses deliciosos, que a gente vê no cinema, mastigando caramelos, e apertando a mão de quem estiver do lado. Desses que nos fazem entender o que queriam dizer quando descreveram ‘amor’, como vocábulo.

Ele é um cobertor amarelinho, com cheiro de baunilha, numa tarde de frio. É uma janela ensolarada; um banho quente; um retrato guardado e as páginas envelhecidas de um diário. Ele é um encontro e um beijo esperado. É carinho para os olhos, e calor para a alma. É, enfim, uma história que, como disse no início, pode fazer acontecer com você, o mesmo que fez acontecer comigo: ter a certeza íntima de que ela é um retrato de sua própria vida.

Eu sei – parece fantasia. Mas, como Leminski teria dito: “Não fosse isso era menos, não fosse tanto era quase.”

Eu explico: em 2005, quando ele foi lançado, fui mais de uma vez ao cinema. Depois, insatisfeita ainda, esperei chegar à locadora e persuadi a moça a me vender uma cópia. – Ah, uma cópia só minha! Para sempre que quisesse, pudesse me deleitar de novo com o perfume daquele romance que me inspirava, me acalmava e trazia a certeza do poder do amor até minha porta.

Por isso, a todas as pessoas, que como eu e o personagem Noah, acreditam que amar com toda força é nesta vida o que importa, deixo a recomendação do filme e um elogio ao amor e sua glória.

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Let It Be.


When i find myself in times of trouble

Mother mary comes to me

Speaking words of wisdom, let it be.

And in my hour of darkness

She is standing right in front of me

Speaking words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.

Whisper words of wisdom, let it be.

And when the broken hearted people

Living in the world agree,

There will be an answer, let it be.

For though they may be parted there is

Still a chance that they will see

There will be an answer, let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.

There will be an answer, let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.

Whisper words of wisdom, let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.


There will be an answer,

let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.

There will be an answer, let it be.

And when the night is cloudy,

There is still a light that shines on me,

Shine on until tomorrow, let it be.

I wake up to the sound of music

Mother mary comes to me

There will be no sorrow, let it be.

Let it be, let it be.

Let it be, let it be.

There will be no sorrow, let it be.

Let it be, let it be,

Let it be, let it be.

Whisper words of wisdom, let it be.


- Beatles -


O Sotaque Mineiro. Uais, trens e sôs? rs



''Minas não é palavra montanhosa. É palavra abissal. Minas é dentro. E fundo.”

Carlos Drummond de Andrade


Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?

Felipe Peixoto Braga Netto

Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida, se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos - oh sina - para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as falas de cada região do Brasil.

Cadê os lingüistas deste país? Sinto falta de um tratado geral dos sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais. Como é que as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência e a sonoridade das palavras?

É um absurdo. Existem livros sobre tudo; não tem (ou não conheço) um sobre o falar ingênuo deste povo doce. Escritores, ô de casa, cadê vocês? Escrevam sobre isto, se já escreveram me mandem, que espero ansioso.

Um simples "mas" é uma coisa no Rio Grande do Sul. É tudo menos um "mas" nordestino, por exemplo. O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Mas, se o sotaque desarma, as expressões são um capítulo à parte. Não vou exagerar, dizendo que a gente não se entende... Mas que é algo delicioso descobrir, aos poucos, as expressões daqui, ah isso é...

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: "pó parar". Não dizem: onde eu estou?, dizem: "ôndôtô?"). Parece que as palavras, para os mineiros, são como aqueles chatos que pedem carona. Quando você percebe a roubada, prefere deixá-los no caminho.

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não.

Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?" Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa, é como perguntar a um peixe se ele sabe nadar. Desnecessário.

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:

- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, olá, me escutem, por favor. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que, "apaixonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um "vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Na verdade, o mineiro é o baiano lingüístico. A preguiça chegou aqui e armou rede. O mineiro não pronuncia uma palavra completa nem com uma arma apontada para a cabeça.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:

- Eu preciso de ir.

Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante. Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum. Entendam... Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar". Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:

- Ah, mãe, eu preciso de ir?

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Deus, tenho que explicar tudo. Não vou ficar procurando sinônimo, que diabo. E não digo mais nada, leitor, você está agarrando meu texto. Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará:

- Ai, gente, que dó.

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras. Eu aviso que vá se apaixonar na China, que lá está sobrando gente. E não vem caçar confusão pro meu lado.

Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é muitíssimo bom (acho que dá na mesma), ela, se for jovem, vai gritar: "Ô, é sem noção". Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora, idéia do tanto de bom que é. Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Ouço a leitora chiar:

- Capaz...

Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "tá fácil que eu faça isso", com algumas toneladas de ironia. Gente, ando um péssimo tradutor. Se você propõe a sua namorada um sexo a três (com as amigas dela), provavelmente ouvirá um "capaz..." como resposta. Se, em vingança contra a recusa, você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "ô dó dôcê". Entendeu agora?

Não? Deixa para lá. É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."? Completo ele fica:

- Ah, nem...

O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?". Resposta: "nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?". A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo. É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...

Certa vez pedi um exemplo e a interlocutora pensou alto:

- Você quer que eu "dou" um exemplo...

Eu sei, eu sei, a gramática não tolera esses abusos mineiros de conjugação. Mas que são uma gracinha, ah isso lá são.

Ei, leitor, pára de babar. Que coisa feia. Olha o papel todo molhado. Chega, não conto mais nada. Está bem, está bem, mas se comporte.

Falando em "ei...". As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi". Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...

Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:

- Ah, fui lá comprar umas coisas...

- Que' s coisa? - ela retrucará.

Acreditam? O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade". E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:

- Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!". E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras. nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim. A fórmula mineira é sintética. e diz tudo.

Até o tchau. em Minas. é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês". É útil deixar claro o destinatário do tchau. O tchau, minha filha, é prôcê, não é pra outra entendeu?

Deve haver, por certo, outras expressões... A minha memória (que não ajuda muito) trouxe essas por enquanto. Estou, claro, aberto a sugestões. Como é uma pesquisa empírica, umas voluntárias ajudariam... Exigência: ser mineira. Conversando com lingüistas, fui informado: é prudente que tenham cabelos pretos, espessos e lisos, aquela pele bem branquinha... Tudo, naturalmente, em nome da ciência. Bem, eu me explico: é que, características à parte, as conformações físicas influem no timbre e som da voz, e eu não posso, em honrados assuntos mineiros, correr o risco de ser inexato, entendem?

Felipe Peixoto Braga Netto (1973) afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos, não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas palavras. Mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais. Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica acima foi extraída do livro "As coisas simpáticas da vida", Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.

FONTE: Releituras.

Parabéns pra mim! Uhul!


Parabéns pra MIM,

Nesta data querida,

Muitas felicidades,

Muitos anos de vida!


Tefinha, parabéns procê também! =)

[Etiqueta] Discorde, mas com elegância.

(Crônica de Luciana Almeida, publicada na Revista AG A Gazeta)

Acho sempre muito deselegante pessoas que ao discordarem das outras, demonstram isso de maneira agressiva e desrespeitosa. O que devemos fazer nessas situações?

Pergunta: Otávio

Simpatia e gentileza são no mínimo o que você pode oferecer a qualquer pessoa. Geralmente, quem não consegue cultivar a elegância ao conviver com a divergência de opiniões, demonstra total inabilidade para desenvolver positivamente as relações interpessoais. Para melhorar o desempenho dentro das empresas, já ficou provado que a discordância é até positiva. Foi desenvolvido em Harvard um interessante estudo que aponta a divergência de opiniões e a habilidade de argumentação das pessoas como elementos primordiais para o progresso do trabalho em equipes.

Li recentemente um artigo da consultora Maria Aparecida Araújo onde ela abordava o assunto com muita propriedade. Afirmando que, as orientações da etiqueta são poderosas ferramentas que nos auxiliam na conquista de relacionamentos gratificantes, exatamente porque nos orientam sobre a maneira correta de aceitarmos as diferenças e de reagirmos às opiniões contrárias às nossas. A forma como transitamos por este terreno tão delicado é determinante para o nosso sucesso na vida pessoal, familiar, social e profissional. Há pessoas que ignoram esses preceitos da boa convivência e acham até que não precisam deles. E lá se vão pela vida a fora, conquistando desafetos, perdendo amigos e oportunidades na carreira, fracassando nos relacionamentos, magoando pessoas, comprando brigas com os superiores, confrontando-os com colegas de trabalho. Só por não saberem ouvir, entender e respeitar quem pensa diferente.

Então me lembrei de uma estória que ouvi há algum tempo: “Um sujeito estava arrumando várias flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado. Vira-se para o chinês e pergunta: - Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o seu defunto virá comer o arroz?” E o chinês responde: “Sim, e geralmente na mesma hora em que o seu vem cheirar as flores!”.

Pense nisso.