Velejo com todos os ventos.

Dentro e fora das "aspas".

Tatuagens.

(Crônica de Ana Laura Nahas, publicada em A Gazeta, datada de 24 de maio de 2010).

Me dizem que é preciso coragem para ter uma tatuagem; imagem, palavra, marca, um troço eterno enquanto dure o corpo, uma frase inteiraque num momento faz sentido, mas no outro vai saber, um desenho feito à mão numa tarde como aquela todas as tardes seguintes, a canção que agora emociona, mas ano que vem vai saber.

Respondo que sim, verdade, precisa coragem (e um pouco de resistência à dor),– fato! – porque quanto mais definitiva são as escolhas maior seu peso, seu medo, seus ais, ainda mais nestes tempos de aversão ao risco e apego à segurança, de conceitos antigos, nós difíceis de desatar, lembranças que não desmancham, manias velhas, mundo torto.

Mas – emendo – todas as escolhas são de alguma maneira definitivas, deixam marcas, mesmo as menores: desligar a TV a cabo porque já não há mais quintas de “Men in Trees” nem domingos de “Mesa Redonda”, ouvir “Carolina na Janela” no rádio do carro para chegar feliz no trabalho, comer saudável ou caprichar na batata frita, fazer promessa para Santo Expedito ou esquecer aquela causa urgente (e um pouco ridícula), escolher o roquezinho do Vitor Paiva para embalar um sábado um tanto estranho, telefonar para dizer disso, ou silêncio.

“Saudade, me largue agora

Me deixa ir embora daqui

Eu sei, você me adora

Mas larga a minha mão

Que eu vou

E não vou mais voltar”

Escolhas nos fazem esquecer rostos, levantar copos, estragar corpos, largar amores para trás mesmo quando ainda são amores, apagar nomes, deixar os filmes passarem, as músicas tocarem, os retratos sumirem, o relógio engolir as tarefas enquanto uma história de personagens contraditórios toma todo o pensamento, e o final feliz parece cada vez mais distante.

Escolhas são inevitáveis, às vezes injustas e inconseqüentes, às vezes pensadas, às vezes acertadas, às vezes nem uma coisa nem as outras. À sua maneira, são definitivas, como (guardadas as devidas proporções) uma flor tatuada na canela, uma estrela grudada no pescoço, um dragão marcado no meio das costas. Porque – alguém já disse (um filósofo, acho) ninguém ama duas vezes o mesmo amor, ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. No momento seguinte, nem sonho nem amor nem pessoa nem rio são os mesmos de antes. São outros.

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Amanhã uma amiga vai terminar a tatoo que começou há umas duas semanas. Rosas. Confesso que entro no estúdio e a vontade é fazer outra! *.* (Fez a primeira, pronto! Vem a vontade da segunda - tenho estrelas no pescoço). Então... Coming soon! (Nas costas!) =P [Ahhhh! Dói? Naaaaada! Arde e queima ao mesmo tempo! É preciso sim, de coragem e um pouco de resistência à dor. Mas ahhh... Seu eu que sou fraca pra biomédicas fiz, você também faz! Só pense direito nessa marquinha. É pra sempre...].

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