[...] Quanto ao preconceito, às vezes ainda me sinto como Edward mãos-de-tesoura, preso em seu castelo, fazendo obras de arte porque não há outro jeito com o qual possa tocar as pessoas. Lembra-se desse filme? Mas quem sabe um dia todos nós aprenderemos e a cada vez que conhecermos alguém, seja ela ou ele, branco, preto, amarelo, vermelho, gordo, magro, feio, bonito, judeu, muçulmano, homessexual, alto, careca, adotado, gago, anão, com AIDS, sem AIDS, rico, pobre, cabeludo, fanho, cego, corcunda, excepcional, vesgo, inteligente, olhos puxados, olhos azuis, palestino, árabe, comunista, capitalista, superdotado, hemofílico, bicho-grilo, miserável, graduado, travesti, místico, sem-terra, mexicano, americano, empregado, patrão, prostituta, enfermeira, médio, padre, novo, velho, ateu, tatuado, com tuberculose, com hanseníase, com mãos-de-tesoura, sem braços, surdo, paraplégico, mudo, ignorante... Nos lembraremos de que, antes de tudo isso, é apenas uma pessoa. E melhor ainda será se, depois de tudo isso, ainda pudermos ser amigos [...].
Trecho do Livro “Depois daquela viagem – Diário de bordo de uma jovem que aprendeu a viver com AIDS” de Valéria Piassa Polizzi.