Velejo com todos os ventos.

Dentro e fora das "aspas".

Voe, mas volte.



"Mas que bonito é já saber onde não se quer estar. Passei as mãos pela cabeça e afastei os cabelos bem demoradamente. Era tarde demais para desistir de ser feliz. Continuo sem saber onde está a agulha para costurar esses maus dias e fazer deles uma colcha de esquecimento. Mas não é por isso que vou parar de acreditar. Quero forrar as lembranças mais lindas em minha cama e fazer dormir todas as dores que já senti. Amarelo-ouro - foi assim que amanheci. Eu amei um pássaro. Queria te pedir pra ficar. Decidi te pedir pra voar. Voa. Reúne tuas forças. Voa. Transpõe os céus. Voa. Ultrapasse as nuvens. Voa. Acenda as estrelas para que eu te possa ver brilhar. Voa. Senta no colo da lua para ela te enfeitiçar. Voa. E jogue raios de sol por onde você passar. Voa. Espanta com teu sorriso toda a tristeza que no seu caminho atravessar. Voa. Contempla a linha comprida do horizonte. Voa. Respire o ar puro que há por trás daqueles montes. Voa. Olha o sem-fim do mundo dos ombros desse gigante. Voa. Brinque com os cometas por entre os pés de vento. Pisa no ar. E me traga de presente a Via-Láctea quando voltar. Só não derrube as amorinhas fendilhadas brilhando em verde azul, ou a amoreira vai outra vez se abalar. Esperava em silêncio, mas o coração fazia muito barulho. Era rosa. Tinha medo de despetalar."

- Pipa -

Como Conta-Gotas ou não, o Tempo passa.

“O tempo passa. Mesmo quando parece impossível. Mesmo quando cada batida dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim”.

Livro Lua Nova

A desilusão de um QUASE.

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu ".

[Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo].