"Mas que bonito é já saber onde não se quer estar. Passei as mãos pela cabeça e afastei os cabelos bem demoradamente. Era tarde demais para desistir de ser feliz. Continuo sem saber onde está a agulha para costurar esses maus dias e fazer deles uma colcha de esquecimento. Mas não é por isso que vou parar de acreditar. Quero forrar as lembranças mais lindas em minha cama e fazer dormir todas as dores que já senti. Amarelo-ouro - foi assim que amanheci. Eu amei um pássaro. Queria te pedir pra ficar. Decidi te pedir pra voar. Voa. Reúne tuas forças. Voa. Transpõe os céus. Voa. Ultrapasse as nuvens. Voa. Acenda as estrelas para que eu te possa ver brilhar. Voa. Senta no colo da lua para ela te enfeitiçar. Voa. E jogue raios de sol por onde você passar. Voa. Espanta com teu sorriso toda a tristeza que no seu caminho atravessar. Voa. Contempla a linha comprida do horizonte. Voa. Respire o ar puro que há por trás daqueles montes. Voa. Olha o sem-fim do mundo dos ombros desse gigante. Voa. Brinque com os cometas por entre os pés de vento. Pisa no ar. E me traga de presente a Via-Láctea quando voltar. Só não derrube as amorinhas fendilhadas brilhando em verde azul, ou a amoreira vai outra vez se abalar. Esperava em silêncio, mas o coração fazia muito barulho. Era rosa. Tinha medo de despetalar."